Atriz Lucinha Lins detona Globo e Record por falta de pagamento

Cassia Marinho

Lucinha Lins critica ausência de remuneração por reprises e falta de oportunidades para artistas veteranos


Aos 71 anos e com uma vasta carreira na televisão, a atriz Lucinha Lins reflete sobre o papel do artista na era do streaming e o que considera ser uma injustiça quanto aos direitos de imagem. Após sete anos sem atuar em novelas inéditas, ela continua presente na TV com as reprises de produções que marcaram sua trajetória, como *A Viagem* (1994), exibida atualmente no canal Viva, e *O Rico e Lázaro* (2017), em cartaz na Record. Em novembro, Lucinha voltará às telas com a reexibição do clássico *Roque Santeiro* (1985), novela que a lançou ao estrelato e consolidou sua presença na dramaturgia nacional. No entanto, a atriz expôs uma dura realidade: embora suas atuações continuem em alta nos canais de reprises, ela não recebe remuneração por esses trabalhos. “Passam reprises das quais fiz parte, mas eu não ganho um tostão”, desabafou Lucinha em entrevista à colunista Mônica Bergamo, da *Folha de S. Paulo*.


A atriz revelou seu descontentamento com a situação, destacando a ausência de retorno financeiro pelas exibições e mencionando especialmente as plataformas de streaming, onde, segundo ela, a exploração do trabalho do ator ocorre de maneira ainda mais flagrante. “É muito feio explorar o trabalho do ator dessa forma”, afirmou. Lucinha argumentou que a legislação brasileira precisa ser atualizada para incluir os direitos autorais e de imagem dos artistas nas transmissões online, que se tornaram uma nova fonte de audiência e receita para emissoras e plataformas, mas que, até o momento, não compartilham esses ganhos com os profissionais que ajudaram a construir essas produções.


A atriz defende que “direito autoral e de imagem devem existir para a vida toda de um artista”, alertando para o que considera ser um tratamento desrespeitoso à classe. De acordo com Lucinha, o cenário atual não apenas desvaloriza o trabalho dos atores, mas também revela uma falha grave na valorização da cultura e do entretenimento no país.


A situação enfrentada por Lucinha Lins não é exclusiva. Outros atores de destaque, como Glória Pires, Mateus Solano e Sergio Marone, também manifestaram publicamente seu descontentamento com os valores recebidos pelas reprises. A Globo, responsável pela transmissão de diversas novelas, afirma que realiza todos os pagamentos referentes aos direitos autorais conforme estabelecido nos contratos firmados. Já a Record, onde Lucinha também mantém trabalhos reprisados, informa que realiza o pagamento dos direitos 90 dias após o início da transmissão, o que significa que Lucinha só deverá receber pelos capítulos de *O Rico e Lázaro* a partir de janeiro de 2025.


No entanto, para Lucinha, o problema não se restringe ao pagamento eventual ou atrasado, mas ao que ela descreve como uma “falta de continuidade na valorização do trabalho artístico”. A atriz observa que muitos atores veteranos enfrentam dificuldades em garantir a estabilidade financeira, especialmente quando o mercado de trabalho tem reduzido as oportunidades para artistas de sua geração. “Tenho 71 anos e muitas histórias para contar, mas depende de me chamarem”, lamenta.


A questão do etarismo, segundo Lucinha, é um dos fatores que dificultam o retorno de artistas mais velhos às produções inéditas. Em sua visão, o setor de entretenimento deveria valorizar a experiência e a bagagem de vida que esses profissionais trazem para seus papéis. A atriz, que fez uma participação especial recentemente no remake de *Dona Beja*, produzido pela plataforma Max, destaca que a falta de convites para novas produções acaba limitando a oferta de histórias que representam e homenageiam a longevidade e a diversidade cultural.


O caso de *Roque Santeiro* é particularmente significativo para Lucinha, que relembra com carinho sua estreia na Globo e o impacto que a novela teve em sua carreira. “Foi um desafio enorme e um dos momentos mais inesquecíveis da minha trajetória”, comentou. A novela, que se tornou um clássico da teledramaturgia brasileira, trouxe temas ousados e inovadores para a época e revelou Lucinha como uma das grandes atrizes do país. A volta de *Roque Santeiro* às telinhas, no entanto, expõe, mais uma vez, a realidade da atriz, que, embora mantenha seu trabalho vivo na memória do público, se vê financeiramente esquecida pelo sistema que lucra com essas reprises.


O desabafo de Lucinha Lins sobre a falta de pagamento por reprises é um alerta para a necessidade de revisar as políticas de direitos autorais no Brasil. Especialistas do setor jurídico destacam que, embora existam regulamentações para os direitos dos autores, ainda há uma lacuna quanto aos direitos de imagem dos atores quando as produções são retransmitidas em canais digitais. A crescente popularidade do streaming e das reprises em canais pagos desafia a legislação vigente, que não contempla integralmente as novas formas de transmissão.


Para Lucinha, o debate sobre direitos autorais deve avançar no sentido de garantir que os profissionais da atuação possam usufruir dos frutos de seu trabalho ao longo de suas vidas. Enquanto isso, a atriz segue aguardando o reconhecimento financeiro e lamenta a ausência de convites para novos papéis. “Eu amo o que faço e continuarei amando, mas o mínimo que a gente espera é que haja respeito pelo nosso trabalho, hoje e sempre”, finalizou.

 

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