O casamento é a solução para a pobreza?

Gustavo Mendex


 Tailândia enfrenta desafios persistentes no combate ao casamento infantil: Relatório revela altas taxas e desigualdades socioeconômicas


A luta contra o casamento infantil na Tailândia continua a ser um desafio significativo, conforme revelado por um recente relatório da Girls Not Brides, uma organização governamental internacional sem fins lucrativos dedicada a acabar com essa prática prejudicial em todo o mundo. O relatório, publicado em março de 2023, revelou dados alarmantes sobre a prevalência do casamento infantil no país, destacando desigualdades socioeconômicas e culturais profundas que continuam a perpetuar essa prática nociva.


De acordo com o relatório, aproximadamente 23% das meninas na Tailândia se casam antes dos 18 anos, com 4% delas se casando antes de completar 15 anos. Surpreendentemente, mesmo os meninos não escapam dessa realidade, com 10% deles se casando antes dos 18 anos. Essas estatísticas colocam a Tailândia como detentora da 11ª maior taxa de casamentos infantis entre meninos em todo o mundo.


Além disso, o relatório destacou as disparidades socioeconômicas que permeiam essa questão complexa. Segundo as "Pesquisas por agrupamento de indicadores múltiplos" divulgadas pela UNICEF entre 2015 e 2016, cerca de 30% das mulheres nas famílias mais pobres da Tailândia se casaram antes dos 18 anos, em comparação com apenas 10% das famílias mais ricas. Essa discrepância ressalta as profundas desigualdades econômicas que influenciam a incidência do casamento infantil no país.


Os dados revelados pelo relatório lançam luz sobre um problema arraigado na estrutura da sociedade tailandesa. Muitas meninas são forçadas a entrar em casamentos precoces devido a pressões familiares, muitas vezes relacionadas ao chamado "dote da noiva", uma prática em que a família da noiva paga uma quantia ao noivo ou à sua família como parte do casamento. Essa prática, embora ilegal, ainda é comum em algumas comunidades e perpetua um ciclo de pobreza e desigualdade.


Além disso, muitos pais veem o casamento precoce como uma forma de proteger suas filhas de um futuro incerto e de aliviar o fardo financeiro de suas famílias. No entanto, essa prática tem repercussões devastadoras para as meninas, privando-as de oportunidades educacionais, desenvolvimento pessoal e autonomia.


Diante dessas estatísticas preocupantes, é evidente que são necessários esforços mais amplos e coordenados para combater o casamento infantil na Tailândia. Isso inclui não apenas a implementação eficaz de políticas e leis que proíbam essa prática, mas também programas de conscientização e apoio às comunidades para mudar percepções culturais arraigadas e fornecer alternativas viáveis para as famílias em situação de vulnerabilidade.


A organização Girls Not Brides e outras entidades dedicadas ao combate ao casamento infantil continuam a trabalhar incansavelmente para acabar com essa prática prejudicial e garantir um futuro melhor para as meninas na Tailândia e em todo o mundo. No entanto, é crucial que ações concertadas sejam tomadas em níveis local, nacional e internacional para abordar as raízes profundas desse problema e proteger os direitos e o bem-estar das crianças e jovens.

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